Devir 1, 2 e 3 – 2023

Os trabalhos que aqui proponho em fotografia e vídeo-performance fazem parte do conjunto a que intitulo como Devir.

Em Devir, parto da referência de duas obras suprematistas de Kazimir Malevich: Quadrado preto sobre fundo branco e Cruz preta a fim de tencionar a intersecção entre a arte contemporânea e o sincretismo brasileiro.

Além de serem dois trabalhos emblemáticos para a história da arte, considerados como precursores do que viria a se tornar o abstracionismo, percebo eu nestas imagens, uma grande influência simbólica da iconografia religiosa.

A icônica foto de inauguração da exposição suprematista de Malevich, intitulada O Alvo, no ano de 1918, na Rússia, evidencia a pintura Quadrado preto sobre fundo branco – considerada a obra prima do vanguardista russo -, no topo da quina da sala expositiva. Fato esse que me chamou a atenção pelo estranhamento da instalação do quadro, de maneira não usual se considerarmos a época. Considerada pelos russos cristãos como o local mais sagrado de um lar, a quina das casas é decoradas por altares com iconografias religiosas, remontando uma antiga tradição do século X, na intenção de trazer prosperidade ao lar. Para os russos, o simbolismo das quinas está relacionado aos pontos cardeais.

Deste modo, estabeleci nesta série, a aproximação simbólica da quina para os russos, com o simbolismo da esquina – frequente em meu trabalho -, a partir de uma influência cultural localizada no outro lado do globo. Para nós brasileiros a ideia de esquina eh relacionada a figura emblemática de Exu.

A forte e controversa figura de Exu representada pelas encruzilhadas, simbolizando o senhor dos caminhos. [1]

---

[1] Texto sob responsabilidade do artista.