Série Assentamentos – 2023
O ensaio fotográfico intitulado de Assentamentos parte da articulação entre minha vivência enquanto Umbandista-Artista-Pesquisador em uma linguagem cruzada com a arquitetura. Opero conceitualmente estratégias de disputa com a história oficial tendo a religião e epistemologia de terreiro como repertório imagético, a montagem e o jogo como procedimentos operatórios. Nas fotografias são incorporadas noções e conceitos como Assentamento, Humaitá (o espaço da montagem para a fotografia), Exú e jogo sobre o que chamo de lugar cruzado.
A Abordagem deste trabalho está na encruzilhada entre campos como arquitetura, antropologia, arte e religião cujas proposições narrativas e epistemológicas são banhadas em dendê. A pesquisa cruza um lugar paradigmático de alteridade ao mesmo tempo implicada a partir de dentro e fora dos terreiros de Umbanda, como médium e artista.
Elenco um vocabulário presente nas umbandas, quimbandas e batuque desde o sul do Brasil como Humaitá, Assentamento e de outros campos, como os termos plantas baixas e fundações, a fim de criar poeticamente um jogo linguístico e imagético.
Amplio, portanto, as noções de assentamento, vinculada ao processo de feitura de entidades e Orixás, à palavra assento, partindo do campo semântico para o associativo, em elaboração de conexões entre as áreas de estudos mencionadas. Humaitá, por sua vez, é o próprio campo de batalha e de montagem, faz referência aos pontos cantados de Umbanda para Ogum, a entidade guerreira.
Como técnico em edificações e interessado no processo urbanístico de construção das cidades, especificamente a cidade de Porto Alegre/RS, opero na sobreposições de temporalidades e espaços distintos afro diaspóricos apagados do contexto urbano. O Parque Farroupilha, conhecido popularmente como Parque da Redenção, é um desses espaços cuja planta baixa é transformada em peça para as montagens em pequena escala (Assentamento 01), bem como os pilares frontais da Igreja de São Miguel das Missões são transformados em objetos para um jogo de equilíbrio (Assentamento 03).
No processo de disputa e tensão, através das montagens, realizo narrativas disruptivas utilizando o conceito de história de Walter Benjamin enlaçado, pelo historiador Luiz Antonio Simas, à noção de Exú com seu aforisma mais popular Exú matou um pássaro ontem com a pedra que lançou hoje”. Outros autores também são referências para a pesquisa, como pedagogo Luiz Rufino, o filósofo Rafael Haddock-Lobo e Muniz Sodré. Com esses referenciais teóricos lanço mão de noções interdisciplinares para a construção poética dos Assentamentos refletindo sobre o espaço geográfico e social como elementos fundantes das relações e manifestações culturais, políticas e religiosas em um campo de batalha, em jogo e em disputa, ou seja, Humaitá. [1]
[1] Texto sob responsabilidade do artista.