Eu Não Obedeço, Porque Sou Molhada – Série Vertentes – 2024
Esta instalação é um desdobramento de um dos trabalhos realizados para meu TCC na Licenciatura em Artes Visuais, no qual relaciono um texto de Gaston Bachelard com a ideia de Tim Ingold de que a educação é um levar para fora.
As conchas têm estado presentes em meu trabalho há bastante tempo, e através delas discuto essa relação entre o interno e o externo, o íntimo e o público. Os “vertentes” fazem parte desse trabalho; utilizo porcelana líquida em moldes de gesso em formato de concha, permitindo que o material escorra em alguns pontos, resultando em um misto de forma sólida e líquida.
Aqui, em Eu não obedeço, porque sou molhada, frase da musica Banho de Elza Soares, exploro mais profundamente as saídas propostas por Bachelard, criando tentáculos teimosos que buscam agarrar o mundo vorazmente do lado de fora, mas ainda apegados às suas conchas. O uso de suporte de luz e acrílico evoca uma aura de espécimes de laboratório, algo que requer observação atenta e destaque, mas que ao mesmo tempo carrega consigo uma escuridão, o lado interno. [1]
De fato, o ser que sai de sua concha nos sugere devaneios do ser misto. Não é somente o ser meio carne, meio peixe. É o ser meio morto, meio vivo e, nos grandes excessos, meio pedra, meio homem. […] Todos esses exemplos nos trazem documentos fenomenológicos para uma fenomenologia do verbo sair. São tanto mais puramente fenomenológicos quanto correspondem a saídas inventadas. O animal é apenas um pretexto para multiplicar as imagens do sair. (BACHELARD, 1957, p. 269).
[1] Texto sob responsabilidade do artista.