Peixaria DuPorto, Costelão do Mercado e O corredor em 23 de Abril – 2024 e 2023
Em meio a um cotidiano hiperestimulante e semi-apocalíptico, o que vemos e o que deixamos de ver? A série de pinturas apresentada deriva de um interesse pessoal por histórias inventadas e a invisibilidade do que é banal.
Minha relação com Porto Alegre se dá a partir dos lugares que habito. Dia a dia me pego passando pelos mesmos lugares, pelas mesmas pessoas. Mas, costumeiramente, o que percebo está limitado a uma visão com antolhos. Contando passos, fazendo cálculos mentais e olhando sempre à frente.
Quando iniciei esta série de pinturas, me forcei a atrasar o passo e, nesse novo ritmo, me fiz parte do mundo. O que é possível de se ver quando se olha? Uma pergunta semanticamente redundante mas que inspira reflexões surpreendentes quando posta em prática. A partir desta curiosidade, decidi transformar essas respostas em telas, utilizando do que é tradicional para evidenciar o extraordinário do cotidiano. A captura do momento de uma visão inusitada, de uma pausa para o café, de uma conversa desconfortável. As imagens carregam histórias que o espectador pode somente imaginar. Quando as pinto, me coloco na posição de observadora, assim como quando as capturo e sou novamente imersa no ambiente retratado e nos cotidianos que fazem parte do meu.
Depois de Maio deste deste ano, me pego percebendo que nossos cotidianos viraram memória. Poucos dias após a captura das imagens, o Mercado Público foi inundado e o Centro Histórico virou rio. O que era banal rapidamente se tornou extraordinário e vice-versa. As transformações do cenário inevitavelmente alteram os rumos da história, mas a memória do que era antes permanece no sentimento coletivo. [1]
[1] Texto sob responsabilidade do artista.