Os trabalhos dessa produção refletem uma busca autoral por explorar, construir e inserir elementos fantásticos nos imaginários urbanos porto-alegrenses. Nesta breve série, busca-se refletir uma estética que bebe no fantasioso da distopia, utilizando recursos da glitch art para desconstruir fotografias da paisagem urbana de Porto Alegre e reconstruí-las na atmosfera distópica.
Ao partir de fotografias do centro de Porto Alegre, elabora fábulas visuais que se sobrepõem às imagens deste território e contribuem para a construção de um imaginário-fantástico da cidade. Ainda, a glitch art revela a interferência e o/do digital, que proporcionam meios de comunicação e produção, mas também geram ruídos, erros e descartes propícios às distopias.
Tais trabalhos são um recorte de projetos mais amplos do interesse desta artista, que pesquisa e realiza a inserção de elementos fantásticos, a partir de diferentes gêneros – tais como a distopia, o terror, a fantasia folclórica, entre outros – nas paisagens e territórios do RS que vivencia e percorre.
Os trabalhos dessa série buscam inserir entre as imagem-lembrança e as imagem-sonho do Litoral Norte do Rio Grande do Sul elementos fantasiosos, contribuindo para a experiência e expansão de um imaginário fantástico local.
As fotografias de fundo, da paisagem, são de autoria própria, realizadas nas cidades de Tramandaí e Imbé, ambas no litoral norte do estado. Sobre elas são justapostas colagens de animais típicos da região, mas com proporções exageradas e em ambientes estranhos a eles. O estranhamento traz, então, essa atmosfera fantasiosa para as imagens fotográficas.
Os animais escolhidos para esse recorte da série são a Caravela Portuguesa, que aparece no céu em “Caravelas Voadoras”, a Medusa-mármore, permeando dunas, mar e céu em “Infestação de águas-vivas” e o Tuco-tuco-das-dunas, em “Tuco-tucos-das-águas”, nadando ao lado de uma embarcação na barra de Imbé, próxima do encontro do Rio Tramandaí com o mar.
Os trabalhos exploram a tecnoestética granulada da fotografia em preto e branco e a retícula das imagens dos animais, evocando tempos “passados” das imagens. Isso coloca os atributos técnicos da imagem também neste lugar-entre a imagem-lembrança e a imagem-sonho – elas misturam o real e o imaginado, atualizando o devir fantástico das imagens técnicas do litoral do RS.[1]
[1] Texto sob responsabilidade da artista