MENÇÃO HONROSA
WEB
WEB é uma série de pinturas com plastilina sobre tela que reúne fragmentos e registros das minhas experiências durante o uso cotidiano da Internet, seja através de ferramentas de pesquisa ou das redes sociais. De certa forma, vejo como um agrupamento não calculado de vivências no ambiente virtual, uma espécie de diário que me permite compreender como o excesso de informações interfere no imaginário.
É também uma tentativa de leitura da percepção através da imagem criada. Ícones, símbolos, marcas, imagens, notícias e emojis ficam armazenados em um banco de dados mental e formam a matriz de impressões do que trago para a materialidade. É uma troca, um movimento de pêndulo que faz com que esses aspectos sejam absorvidos e depois devolvidos por meio das redes sociais. Essa forma contemporânea de ver, pensar e vivenciar o mundo a partir da web reflete no resultado final dos trabalhos. Não há espaço para respiro, são figuras e formas ora nítidas, ora confusas, borradas ou bem definidas, semelhantes ou disformes, como uma forma de citação ao processo de atenção e foco.
A rotina on-line é permeada por contrastes de temas e estímulos, apenas um clique separa o corriqueiro do absurdo, parece não existir uma ordem ou um critério linear ao navegar pelas notícias: são guerras e hambúrgueres, emojis e tragédias, likes e fuzis, paisagens naturais e prédios em ruínas, epidemias e danças, o veneno e a cura na mesma tela. Esses são alguns dos incontáveis exemplos dos conflitos perceptivos que acredito estarem se naturalizando; uma aba do navegador para um show ao vivo e outra aba para uma notícia sobre a nova crise global.
A opção de usar a massa de modelar no campo pictórico surgiu no período mais grave da pandemia, em 2020, quando o isolamento social assertivamente afastou as pessoas de uma presença física e levou ao mergulho nas redes como método de socialização. Acredito que a necessidade de um contato mais real em oposição ao excesso de virtualidade tenha sido a faísca para buscar um material extremamente tátil e maleável como a plastilina, que para mim ainda carrega uma camada a mais: a memória afetiva de ser o “brinquedo favorito” durante a infância. Dessa segunda camada pude retirar o tom irônico de utilizar um material lúdico e lembrado pelo caráter banal para tratar ironicamente de assuntos mais complexos e densos, fechando uma cadeia de pensamento a partir dos contrastes, e criar uma conexão entre conceito e forma. [1]
[1] Texto sob responsabilidade do artista.