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Desarranjos Arranjados, aqualrela e guache sobre o papel, 48x29,7cm 2024

 

Desarranjos Arranjados – 2024

Os trabalhos selecionados para enviar ao Salão são parte de uma trajetória pessoal e deram início a uma nova etapa na minha identidade artística. Há algum tempo, tive o ímpeto de tornar minha arte um retrato direto da minha vivência, mas que também fosse além: desafiasse algumas noções do feminino e dos conflitos do ser.
Esses tons bordô, que em primeiro plano são secundários, acabam protagonizando minha produção – ora são chamados de barrosos, cor de carne, e por ai seguem. Eles nada mais são que improvisos na hora de pintar, mas que cumprem a ideia central de deturpar o cor-de-rosa e romper com a ideia de delicadeza, trazendo um aspecto fechado e angustiante.
Eu coleciono bonecas, mas não direto da caixa, apenas as previamente customizadas por artesãs. A ideia de pegar algo produzido em massa e torna-lo único, com um caráter especial, inspira minha criação. Quando compus Desarranjos Arranjados, a ideia central era deixar minha boneca articulada, um mero objeto de decoração, em uma posição de poder, o inverso de seu papel, onde a disposição das casinhas foi desarranjada e sem perspectiva. Porém, em meio ao caos vivido durante maio nas enchentes, interrompi minha produção e foquei em expressar meu sentimento de impotência. Após deparar-me com minha outra boneca jogada na mesa, decidi opor à proposta da primeira pintura e trazer seu caráter indefeso e reduzi-la ao seu papel de objeto ao ser levada pelas enchentes, em uma água suja e densa. A composição contraria a pintura Ofélia, de John Everett Millais, cena dramática, porém estática.
Essas três obras são ligadas diretamente ao meu ser enquanto mulher e indivíduo: minhas concepções acerca da feminilidade e imagens que brotam no meu subconsciente, idealizadas ou não. [1]


[1] Texto sob responsabilidade da artista.