Sem título
Partindo do desenho de observação, a mesa do ateliê onde deixo todo meu material se torna o
motivo principal de representação como um espaço de infinitas possibilidades de composições
conforme os elementos são depositados e movimentados sobre ela.
Para a seleção do que desenhar em meio a pluralidade de objetos, acabo utilizando uma
ferramenta muito básica e comum no ensino do desenho: um pequeno visor recortado em papel (hoje,
muito mais próximo de um enquadramento com a câmera de um smartphone do que o mesmo visor
utilizado por Dürer para auxiliar a desenhar em perspectiva). Assim, este simples instrumento serve
como um “selecionar e recortar” para melhor direcionar o olhar para pontos que me interessam dentro
de um motivo maior que está sendo observado.
Quando as partes da mesa são passadas para o desenho, seus limites deixam de existir e sua
extensão torna-se infinita para além do papel.
Nos desenhos ficam registrados os vestígios do olhar que interroga tudo que está diante dos
olhos, por mais comum e cotidiano que aquilo possa ser. Ficam registrados as linhas, as manchas, os
deslizes e a insistência em fazer emergir do branco do papel o resultado do interesse de olhar para as
coisas, e principalmente a ânsia em desenhá-las. [1]
[1] Texto sob responsabilidade do artista