A obra apresentada é parte de uma investigação e exercício de fazer desenhos em que um jogo de acasos, ação e reação, um pouco de descontrole e um tanto de observação dos “erros”, seja o tema principal. Neles vou deixando que as linhas, manchas e texturas aconteçam como em um diálogo fluido, onde não planejo antecipadamente os elementos ou suas disposições no espaço. Nunca decido como a imagem será, ela vai se formando enquanto observada e construída. O jogo, a conversa, acontecem durante essa observação. Se borro o papel sem intenção, transformo essa mancha em elemento. Se uma linha sai tremida, tento manter esse movimento nas próximas. Não posso dizer que o desenho me conduz como se eu não estivesse consciente, mas gosto de pensar que trabalhamos juntos pra fazer emergir no papel alguma coisa interessante.
São imagens onde não há o desejo de representar algo. Mas terminados os desenhos, consigo fazer relações diretas com referência a um aspecto que tem sido constante na minha vida atual: a natureza. Fungos (esporos, decomposição), plantas e plantios (brotos, raízes), pedras, água e seu movimento e muitas outras nuances que estando em meio à natureza é necessário perceber e aprender a lidar.
Esta obra sem título aconteceu como uma experiência de desconstrução, reconstrução. Após finalizado, o desenho foi recortado em quadrados do mesmo tamanho e “refeito”, com os fragmentos sendo dispostos em outras posições, mostrando uma nova imagem entre inúmeras possíveis. Observando o todo, temos um desenho novo, ao mesmo tempo em que temos também vários pequenos desenhos. A escolha da realocação de cada pequeno desenho foi um tanto acidental, seguindo a mesma lógica do processo de produção da imagem inicial.[1]
[1] Texto sob responsabilidade da artista