A obra faz parte da série em aberto, ” Coelha rosa: metamorfose do corpo a partir das relações”. A coelha rosa é a personagem protagonista, cujo corpo fantasioso e antropomórfico, assume diferentes formas a cada obra. Sua conduta é permissiva e carregada de significados em sua sexualidade envereda por memórias traumáticas em seu corpo infanto-juvenil. Assim, imersa em sua realidade fantasiosa, projeta seus anseios de curas psíquicas diante da memória de trauma psicossomático instaurado. Outros seres animalizados e antropomórficos assumem significados adjacentes `{as relações de condutas na salvação de si própria. Cada imagem é um convite em que acessamos essa realidade psíquica da própria coelha rosa.
“Corpo-bolo: dê-me um pedaço?” integra a série de pinturas “Coelha Rosa: metamorfoses do corpo a partir das relações” e como as demais obras dessa pesquisa, detém-se sobre as transformações animalizadas, de uma nova identidade, que o corpo infanto-juvenil assume ao sofrer traumas psicossomáticos decorrentes de violências e abusos sexuais. Vemos aqui, imerso em fundo azul, o corpo metamórfico da coelha rosa seccionado em partes separadas; a protagonista expõe-se à iminente violência representada pela aproximação da figura agressiva e erótica de um tigre, símbolo da força e virilidade masculina. A imagem fantasiosa traz significações ao ato cênico a fim de expressar as degradações psíquicas e biológicas instauradas nos corpos em confronto. Há outros elementos como os olhos gregos que, carregados de significado próprio, contrapõem a cena, “afastando todo o mal”. Além disso, a serpente dourada também traz outros contrapontos simbólicos, como aquele que possui sabedoria e conhecimento a fim de “salvar” o corpo coelha-rosa.
A obra pertence a uma pesquisa que venho desenvolvendo desde 2019, do qual participa à série de pinturas, “Coelha Rosa: metamorfoses do corpo, a partir das relações”, em que elejo a “Coelha Rosa” como personagem protagonista, cuja expressão corporal animalizada, antropomórfica e erógena se apresenta em diferentes configurações e fantasiosa “relações “. Esses corpo assume-se nessa identidade animalizada a fim de sobreviver as suas próprias perturbações psicossomáticas. Nesta imagem, a “Coelha-rosa” está em posição frontal em uma tela vertical, cujo escala se aproxima da dimensão do corpo natural humano. essa frontalidade carrega a dupla possibilidade de expô-la em um gesto de confronto e de vulnerabilidade, em relação ao fruidor. Em “Santíssima”, o título faz alusão ao corpo puro, virginal, intocável e bondoso das figuras femininas das santas Católicas, porém aqui, seu sentido contrapõe-se em ironia a este corpo exposto em erógena dramaticidade. sobre um monte de caveiras, este corpo metamórfico vivencia realidades simultâneas associadas às três seções que estruturam a imagem. assim, a dubiedade se faz presente em “clareza e escuridão”, apresentado elementos que interajam em possíveis associações significativas, de bem, mau, dor, prazer, morte, cura., inocência, desejo, paz e salvação. – “Santíssima”, rogai por nós, pecadores.[1]
[1] Texto sob responsabilidade da artista