O acordado retrata a visão da artista sobre o mito de Sidarta Gautama. A composição traz a pesquisa sobre a vida de Buda no Himalaia, recluso aos palácios, num universo ilusório. Nascido como a imagem de um elefante com um rubi na cabeça, seis presas em cada mão, uma coroa orgânica, pestanas de boi, pele dourada, quarenta dentes brancos unidos, membranas interdigitais e formas nas plantas dos pés, Sidarta fez três passeios fora do palácio. No primeiro viu um homem velho carregando um bastão, depois um homem com lepra e por fim um cortejo fúnebre. A velhice, a doença e a morte o impactaram e resolveu deixar a riqueza, ficando apenas com um manto, uma navalha, uma peneira e uma tigela para pedir esmolas. Caminhou pelo Bosque de Sena e, sentado à sombra da figueira meditou sete dias e sete noites quando enfim percebeu os infinitos mundos do universo, tomando consciência da impermanência, da insubstancialidade e da ilusão do ser.
Na obra Delusão a artista faz alusão ao pensamento hinduísta, ao caráter pluralista e sincrético que está na origem da própria religião indiana. É um chamado à consciência, à busca da clareza e à percepção de que a realidade é criada por nós mesmos. A tela retrata ambiguidades e paradoxos, incitando à reflexão sobre o que é a realidade e até que ponto percebemos as coisas como realmente são.
A temática da obra trata da simbologia do jogo de cartas de Tarot. O título refere-se à jornada do louco, arquétipo do ciclo da vida. Para representar os 22 arcanos num contexto único as cartas foram jogadas sobre a tela e a disposição aleatória compôs o croqui da obra. A cascata e a água integram os personagens, que ora aparecem como fundo, ora como figura, para criar um ambiente tal como um jardim medieval. Formas sobrepostas e detalhadamente trabalhadas representam as ilhas (mundos) habitadas pelos arcanos.
As percepções subjetivas sobre o tema transformam-se em imagens simbólicas, quase que arquetípicas. Cores e formas revelam-se passo a passo para encontrar a composição mais harmoniosa. Um mergulho profundo de traçado plano que anseia ser decifrado pelo olhar do outro.
Inspirado na filosofia hermética, a obra é uma alegoria às sete leis que regem o universo: polaridade, correspondência, mentalismo, vibração, ritmo, causalidade e gênero. A composição dos objetos iguala as leis pela forma e diferencia pelos adereços em arame e pelas cores.
O contraste entre o preto e o branco e os extremos laterais em arame referem à polaridade; o objeto marrom marca a transição do que é interno ao que é externo mostrando a correspondência entre as leis no plano físico, mental e espiritual. No mentalismo, as projeções dos círculos achatados demonstram que a realidade é a expansão da mente. A vibração, como cores intensas do amarelo ao verde limão e laranja tem a voluta representando o eterno movimento. No ritmo as ondas em vai e vem se dissipam por toda a peça enquanto o arame em curva remete ao movimento de inicio e fim, à causa e ao efeito. E por fim, o gênero, a peça rosa, que representa a criação e o desenvolvimento.[1]
[1] Texto sob responsabilidade da artista